terça-feira, 16 de dezembro de 2008

No começo pensei que tinha me dado bem. Afinal de contas, adoro beber, e trabalhar em um bar parecia algo promissor pra um jovem totalmente deslocado e sem perspectivas de futuro. Tudo planejado pelo capeta. Eu tinha um colega que era uma figura, literalmente. Francisco parecia um desses garotos mimados que passou boa parte da sua jovem vida enfiado em livros de economia e nas horas vagas lia Nietzche e o mein kampf, a famosa autobiografia de Hitler.
Pois bem. Francisco, esse nerd de quase dois metros de altura, daqueles que não sabem onde colocar as mãos quando está em repouso, começou a propagar mensagens neo fascistas pela internet dentro da faculdade federal onde estudava. Putz! Que burrice! Não demorou muito a coisa começou a ficar séria. Até que a polícia federal começou a rastrear o cara. Lembro que foi nessa época quando o conheci. Ele chegou a me contar essa história de que a federal estava atrás dele, mas que tambem isso tudo era mentira, coisa de um grupo da faculdade que queria fuder com ele. Enfim, alguns meses se passaram e eu cheguei até pedir o livro do hitler emprestado quando o vi em uma prateleira na sua casa ( a verdade é q nunca consegui ler esse livro ).
De repente o pai do cara morre. Lembro vagamente que era uma cifra de uns R$200,000,00 ( duzentos mil ) que ele tinha que receber de herança. Depois de ter recebido essa grana o Francisco sumiu. Fiquei alguns meses sem vê-lo. Alguns conhecidos diziam que o cara estava metido no lance de emprestar dinheiro a prazo. A famosa agiotagem. Um nerd agiota. Putz! Que burrice, de novo!!
Em seguida, quando encontrei o Francisco novamente ele já estava praticamente na lona. Me disse que era verdade o lance de emprestar dinheiro a prazo e me disse tambem que a maioria das pessoas não retornavam nem a ligação. Ele chegou a contratar um capanga que andava com ele pra cima e pra baixo, mas acho que isso tambem não deu em nada. Isso era muito engraçado: Francisco e seu capanga pra cima e pra baixo o dia todo. Uma viadagem da porra! Foi então que um dia, depois de várias garrafa de vinho, ele me fez essa proposta "maravilhosa" -Vamos abrir um bar! Achei aquilo engraçado. Só sabia beber e bebia em escala industrial qualquer coisa etílica que aparecesse na minha frente. Na época ainda morava em Minas Gerais. Se não me engano Francisco tinha uns 12 mil reais. Tinha ido a um lugar chamado Ibitipoca, e conhecido um tal de Bareta. O Bareta tinha oferecido à ele uma mina de ouro. O cara não falava de outra coisa. Na época juntei os meus trapos, a namorada hippie e parti pra tal de Ibitipoca.
No começo foi uma loucura. Ninguem ali entendia porra nenhuma de como se administrar um bar, mesmo que pequeno.
Tapas e socos depois a minha namorada descobriu que a gente estava vendendo pra caramba só que na verdade sempre estávamos devendo ao Francisco. Isso aconteceu uns seis meses depois que já estávamos lá ( é...sou devagar quase parando ). Não tínhamos nem chuveiro elétrico na porra da casinha onde ele mesmo ficava nos finais de semana quando subia a serra para recolher a grana. Então a coisa ficou esquisita pra ele. Lembro que tínhamos um estoque maravilhoso de bebidas: whisky 8 e 12 anos, licores cremosos africanos e irlandeses, vodka, rum e várias, várias caixas de cerveja. Ótimo. Aguardei ansiosamente o nosso próximo encontro e a mesma putaria acontecendo. Esperei então o meu querido amigo nazi partir para o seu bunker e comecei minhas diabruras com o nosso pequeno bar. Coloquei até as minhocas da terra para beberem Jonnhy Walker red ou black, de acordo com o gosto do cliente. Bebemos aquele bar nuns dois ou três dias. Depois da ressaca ainda tínhamos várias caixas de cerveja. Separei um pouco para o consumo pessoal e ainda consegui vender o restante. Quando cheguei no bar descobri que tudo estava arrumadinho demais e resolvemos jogar uns ovos na parade para dar um toque especial.
Meu querido poema bar. Que nome horrível para se colocar num bar, mas como eu gostava dele! Lembro que tinha uns poemas do Rimbaud rabiscados de qualquer maneira numa folha de papel que depois colávamos pelas paredes do bar. Era engraçado e ingênuo. Dificilmente terei um barzinho como aquele. Depois desse tambem não tive mais nenhum bar. Sempre trabalhando pra outras pessoas. Algumas até com um caráter muito pior do que tinha o meu amigo Francisco.
Isso ocorreu há 12 anos atrás.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Barfly...confissões

Costumava pensar q o trabalho em bar me levaria às raias do conhecimento e coisas interessantes ( lê-se: música, gente legal, informação por osmose). Ledo engano. A quantidade de malas,
q geralmente são pessoas bastante simpáticas superam, e muito, o numero de pessoas legais q porventura vc possa conhecer na noite.
Quanto a vantagem de se trabalhar à noite, em se trocar a noite pelo dia, ocorre um outro engano, geralmente um profissional da "barra" vai se alavancar pra casa às cinco da manhã. Num primeiro momento isso não é nada romântico.
Agora o q eu tenho pra dizer é q estou formulando esse blog ainda e q tenho alguns toques e histórias pra passar pra galera( quem não se lembra do cheiro do ralo, estrelado por selton mello, em q ele dizia q todo objeto tem uma história...).
Minha idéia é causar dúvidas. Muito mais q esclarecimentos.
Quero falar sobre o universo q cerca o profissional de bar com todas as suas roubadas.
Sem ser necessariamente um simples objeto de fazer drinks.
Até breve!